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Viagem no Rio Madeira -- Memória de uma Conversa

  • Foto do escritor: José Pombeiro Filipe
    José Pombeiro Filipe
  • 20 de jan. de 2019
  • 4 min de leitura

Atualizado: 22 de jan. de 2019


Totem da Locomotiva na Ferrovia de Guaporé-Madeira, fotografia por Arturo Osaco publicada em Instagram
Fotografia por Arturo Sacco publicada em Instagram

Memória de uma Conversação

Reconstituição de uma conversa que talvez nunca tenha ocorrido. Ou que não terá decorrido como aqui se pretende.

Participantes na roda de conversa:

Carlos (o kardecista, em viagem de São Paulo para Manaus, com os materiais para desenvolver o seu projecto de produção de peças em vidro com coloração em acrílico)

Elisângela (bailarina e cantora de boleros, de regresso a Manaus, acompanhada pela filha adolescente, depois de mais uma tentativa de reatar uma relação estável com o pai da moça)

José (meio antropólogo, meio professor de Ciências Naturais, meio português, meio tudo, em deambulação pelos percursoa de Levi-Strauss enquanto espera para assistir a um Encontro dos Povos Índigenas na Universidade Dom Bosco em Campo Grande, e depois de saír de Barra do Bugres (Vem aí a lider Xiquinha Parecis!) quase a levar frechada de um Curso de Formação de Pofessores Indígenas para a Escola Intercultural -- "Estão aqui professores de dezenas de etnias do Mato Grosso, então, é intercultural, né?!)

(foto da Barra)

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Arturo (meio índio, meio antropólogo, regente agrícola ou arquiteto paisagista --"Meu negócio mesmo é jardinagem!. Agora estou indo ó Ibama pra pegar algumas mudas pro Parque das Nações Indígenas em Campo Grande."; "Mas vai trazer elas de barco?".; "Até Porto Velho até que dava, mas depois fazer as coitadinha atravessar toda Rondônia em cima de carreta, dava não. Vamo embalar ela e meter n'avião até Brasília, depois até Campo Grande." -- comentou um moço que acompanhava o "jardineiro", e que parecia ser nordestino),

Um motorista do Acre que tinha cansado de conduzuir carreta, de Cruzeiro do Sul pra Rio Branco, de Rio Branco pro Perú e Bolívia, de Riberalta a Porto Velho, e de volta ao Acre ou a Beni; depois de algumas experiências com ayahuasca e veneno de sapo, (Ele dizia que era experiência espiritual) tinha virado praticante de arte marcial japonesa e estava indo pra Santarém ao aguardo de lugar de professor em academia de parente.

Um velho nordestino que depois de ter sido metalúrgico em São Paulo (quando Lula dirigiu o sindicato!), e de ter ido a Rio Grande do Sul procurar mulher séria pra casar, se tinha estabelecido numas terras em Roraima, onde agora estava voltando, mas pelo meio tinha também feito um investimento em terra pró lado de Umaitá.


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Um porteiro de danceteria em Manaus, grandalhão mas sem ar agressivo. Perguntou a Elisangela: Seu marido é moreno?. A resposta de Elisangela foi cara de índia furiosa. Ela se dizia índia manauá (referindo-se ironicamente à natureza índia de muitos habitantes de Manaus, os manauá, bem como ao carácter citadino que muitos índios podiam adoptar), embora falasse da entrada de português na genealogia da família. Me elucidou generosa e francamente sobre o mercado sexual em Manaus. "Você, José, tem perna bonita." Poderia ir pra sua casa em Manaus... Mas teria que bancar a família.. E na família havia ainda moça solteira: uma tinha sido assassinada, outra foi só estuprada por vizinho, mas dicidiu rejeitar ele e ficar com a família; ainda se sentia ameaçada. Em abono da sua dignidade impõe-se que esclareça que nunca foi tão directa como este alinhamento de frases poderia sugerir. Estou sintetizando a ideia. Nunca houve de parte a pate propostas concretas: "Você é um tipo fora do vulgar". (Depois de uma noite a circular por vários locais de Porto Velho num taxi conduzido por uma corpulenta morena, o porteiro de Manaus, que estava surpreendido com a relação desprendida entre Elisangela e José, deu a conhecer uma conclusão a que entretanto chegara: "É mesmo verdade o que dizem.

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Pintarest

Os portugueses têm grande atração é pelas mulheres africanas." É certo que me tinha interessado pela circunstância daquela mulher que, vestindo elegantemente uma saia e casaco de executiva, conduzia o taxi que ela mesmo possuía, independentemente do marido. Mas o grandalhão porteiro estava equivocado.)


À conversa assistiam por vezes três casais. Um deles era formado por um velho publicitário belga e pelo seu corpulento acompanhante "moreno", retiravam-se cedo pra cabine. Outro estava aconchegado numa amaca. Ela era uma francesa, fotógrafa, de cabelo escuro, curto, estatura elevada e atlética, que viajara do Rio até à Bolívia de boleia em caminhão. Viajando de regresso no trem de Potosi, tinha encontrado um jovem neozelandês de origem escocesa, ossudo, mas não tão corpulento como os seus ancestrais. Fizera feito um curso de Enologia, na sequência do qual fez um estágio no Chile, de onde então estava vindo, a caminho de outro estágio na Califórnia. A certa altura, cobriam-se com o pano, e a amaca ia baloiçando cada vez mais, mas sempre discretamente. Outro casal heterossexual era formado por dois jovens mexicanos muito magros, ela pequeníssima e de enorme flexibilidade (foto?). Nem se dava pela rede a baloiçar.

Também podia fazer aparecer Violete, a francesa franzina, nascida na Guianne filha de uma bióloga minha coetânia. Mas para já fica escondidinha. não sei se sonhando com o peruano de longa cabeleira negra (foto) que tinha conhecido num acampamento de maluco bom junto à Barra da Tijuca, e que agora ia procurar.


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Mas vamos à conversa sobre os espíritos.


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Rua de Porto Velho fotografada por Arturo Sacco













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Fotografia por Arturo Sacco, publicada em Instagram

-- Ando pelo mundo a colher bocadinhos. Acrescentou José.

-- Como um peregrino a recolher relíquias, sugeriu Arturo..

-- Não só, também vou guardando bocadinho mau. Será para encontrar o sentido do mundo. para definir meu lugar no mundo?


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