
Nº 1
sino do caracena
Boletins Político-culturais da Oficina da Memória
Revalorização Simbólica e Política do Castelo Artilheiro de Vila Viçosa
e do episódio de resistência que
os militares portugueses
aí protagonizaram durante a
Guerra da Restauração em 1665
Em 1483, o rei D João II acusou de traição ao então Duque de Bragança, D Fernando II. Na sequência de um curto processo, o duque foi executado e a Casa de Bragança liquidada, tendo a víuva e os filhos ido para o exílio em Espanha. O mais velho desses filhos, D Jaime, tinha então 5 anos. Viveu na região de Sevilha até cerca dos 20 anos, pouco se sabendo sobre a sua vida nesse período, mas deve ter tido protectores poderosos (provavelmente os Duques de Medina Sidónia) e uma excelente educação, tendo-se familiarizado com as mais avançadas ideias e protagonistas do Renascimento e com algumas das suas realizações.
D. Manuel (que era tio dos jovens exilados), assim que foi entronizado, fez regressar a família e refundou a Casa de Bragança com o seu Ducado, vindo mais tarde a colocar D Jaime num lugar privilegiado na linha de sucessão ao trono.
O jovem duque entendeu a localização de Vila Viçosa, sede do novo ducado, como uma localização adequada para o seu projecto de colocar a Casa de Bragança num papel de charneira da diplomacia peninsular. A velha alcáçova não correspondia aos critérios exigíveis para uma demora ducal da época, muito menos para ser local de relações diplomáticas a tal nível. Começou por isso a construir um palácio na encosta soalheira face à ribeira de Alcarrache (ainda visível na ala oriental do actual palácio e de que a Porta dos Nós terá sido uma das entradas, provavelmente a principal para um átrio na face norte).
Mas o que aqui nos importa é o Castelo. Logo que em 1501 o Duque começou a habitar o novo palácio (ainda em construção), à alcáçova do castelo foram atribuídas funções exclusivamente militares – não menos importantes para o ambicioso projecto de D Jaime.
A velha alcáçova veio a sofrer profundas alterações estruturais que passaram por projectos dos melhores arquitetos militares da época. Muito provavelmente terão trabalhado nesses projectos Francisco e Diogo de Arruda que trabalharam para a Casa de Bragança nas praças que esta conquistara e administrava no Norte de África: Azamor e Mazagão – a da cisterna onde Orson Welles filmou Otelo, e que hoje faz parte da cidade marroquina de El Jadida (geminada com Sintra nos anos 80) – Há uma belíssima história, contada por um historiador de arquitetura francês de nome Vidal, sobre como toda a população da cidade, cada um com seu lugar na organização administrativa e na vida social, foi transferida para a foz do Amazonas no século XVIII. Estudos recentes identificaram Benedetto di Ravena como tendo sido autor da planta que deu ao castelo artilheiro as principais características com que o conhecemos. As obras terão terminado quando já era Duque D.Teodósio I.


