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JÁ NÃO ESCORREM ÁGUAS SALVÍFICAS DO ALTO DA SERRA DE SINTRA (1)

  • Foto do escritor: José Pombeiro Filipe
    José Pombeiro Filipe
  • 29 de jun. de 2021
  • 4 min de leitura

Atualizado: 2 de jul. de 2021

: 1. O Bosque Misterioso


Surpreendidos e atemorizados por uma epidemia para a qual poucas defesas tínhamos e que ameaçava passar a ser uma pandemia duradoura, muito se falou em mudar de vida. Todos percebiam que a favorecer a propagação do virus estava a orientação liberalglobalista da economia, de todas as políticas económicas pelo mundo fora. Os governos logo aproveitaram para ensaiar novos instrumentos de controlo populacional. Mas, sobretudo na União Europeia, negaram-se a fechar as fronteiras, muito menos fecharam as fronteiras aéreas. Só após uns meses, o turismo começou a diminuir.



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Pude então voltar a subir com alguma tranquilidade a Calçada da Pena, depois de anos em que as estradas de Sintra vinham sendo invadidas e apropriadas por uma indústria que explora o turismo massificado, remetendo os habitantes para espaços cada vez mais restritos, ameaçados, mesmo esses. Como muitas vezes acontece, quando se volta a um território em que outrora nos tínhamos habituado a viver, descobrem-se lugares ao lado dos quais se tinha passado com indiferença, ou sem que nunca nos tivesse interessado explorá-los. Foi o caso desta mata entre o Monte Sereno e Stª Eufémia. A estrada tem aspectos interessantes, formados pelo arvoredo alpendorado sobre penedos que estreitam mais ainda a estrada, para desespero dos carroceiros desta moderna indústria. Mas a primeira vez que me interessei pelo que podia haver mata adentro, por trás destes penedos, foi quando começou o 1º confinamento.


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A subir, à minha frente, ia o homem aqui fotografado, estranha figura. Aproximei-me dele e meti conversa. O que fazia ali, numa manhã deste tempo estranho? De onde vinha? De Espanha. De onde em Espanha? Das Astúrias. Essa é também uma terra com muitos montes... Sabes que o Palácio está fechado? Sim. Vou para esta mata aqui à esquerda. Eram dias em que quase todos evitávamos aproximar-nos uns dos outros, quanto mais abordar um estranho. Não fiz mais perguntas. Que seguisse em paz e sossego.


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Poucos dias depois, vi um grupo de turistas entrando na mata por um caminho que começava junto à casa de guardas florestais, a que chamam Casa da Lapa. O Palácio continuava fechado. Procurariam uma alternativa, ou um local de onde o pudessem avistar?


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Mas iam em sentido contrário, e pareciam decididas.

Decidi também eu seguir por ali. Percebi que falavam em russo.


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Para que não pensassem que as seguia, desviei-me do que parecia ser um caminho aberto por madeireiros e procurei, entre uns penhascos impérvios, uma passagem para Stª Eufémia. Havia de voltar para descobrir o que pareciam procurar, ou o que as podia atrair, para além das formas caprichosas dos penedos.





Por mais que fantasie o espírito das mulheres russas, e dos asturianos, não imaginei então o que agora encontrei, guiado pelo João Diniz, que por ali tem andado desde menino.

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Onde mais pode levar este caminho? Poderá passar por aqui um acesso rodoviário à Pena, que não atravesse povoações?

https//www.facebook.com/groups/525260151447636




2. Estradas, turistas e minas


Há os que se opõem à abertura de novas estradas ou à transformação de alguns caminhos em rodovias, porque "não querem mais carros nem mais pessoas na Serra".

Porque isso traria mais pessoas e mais carros à Serra.. Mas, já hoje, há um afluxo de pessoas que provavelmente excede o que muitos dos seus lugares podem suportar sem se degradarem e sem prejuízo imediato da sua fruição.


As viaturas do turismo, desde autocarros de grandes dimensões a vans, jeeps e triciclos ruidosos percorrem a serra de lés a lés e chegam a todos os lugares. (a própria empresa PSML faz circular os seus autocarros no Parque da Pena).

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E o trajecto principal para subir e descer da Pena, faz-se através de estradas estreitas e sinuosas (e passando necessariamente pelas ruas das povoações)

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Estradas que passaram a estar reservadas para as empresas da indústria e para os "residentes nas quintas", com uma convergência de interesses entre os "ecologistas" e os exploradores do turismo de massas, que tiram proveito das restrições, para andarem por toda a vila a angariar clientes para transfers às principais atracções ou para tours que levam milhares de turistas a todos os cantos da Serra.

O número de pessoas que acede à serra depende de decisões que têm sido determinadas por interesses económicos ligados ao turismo. As entidades estatais envolvidas, com responsabilidades em áreas que vão do ambiente, ao património cultural e ao turismo, não se articulam nem assumem decisões, descarregando essas responsabilidades para entidades em que estão representadas (juntamente com a Câmara Municipal) , como o PNSC, a PSML, e ou o Turismo de Portugal,(uma entidade que por sua vez está profundamente ligada aos interesses das empresas), . Por todo o lado, estas entidades tentam fechar caminhos e fazem restrições de acesso, que depois gerem com excepções de carácter pouco transparente, e que acrescem os seus poderes.de facto. Mas não há quem faça um ordenamento com hierarquização do valor ambiental e cultural dos lugares, e com uma rede viária de estradas, aminhos e trilhos diversificada para um leque de usos. A degradação em curso, e que estava em aceleração até à epidemia de covid, não é só resultante da pressão do turismo. É o resultado de políticas como a que levaram à extinção dos serviços florestais e à saída da serra de boa parte dos seus povoadores, os verdadeiros residentes que eram os guardas florestais (e alguns caseiros).


Nos próximos post, vamos focar-nos numa das componentes ambientais que são os recursos hídricos: fontes, mínimas, galerias, linhas de água, mães de água, tanques e outros depósitos.


 
 
 

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