O Largo da Feira é património histórico e faz parte da Paisagem Cultural de Sintra.
- José Pombeiro Filipe
- 5 de fev. de 2022
- 4 min de leitura
São três os lugares centrais de Sintra:
As praças junto ao Palácio da Vila -- ”o Paço”, lugar privilegiado da corte -- que agora está invadido pela indústria do turismo massificado.
A Estefânia, desde a Estação ao Mercado, onde se foram localizando cafés e lojas ao serviço do comércio local, mas que agora vai pelo mesmo caminho da exploração do turismo massivo.
O amplo largo em S. Pedro de Penaferrim, onde há mais de duzentos anos se faz a Feira que deu o nome ao lugar e que, já no século XX, foi transformada numa praça urbana com o nome de D. Fernando II.

A Câmara Municipal de Sintra, incapaz de lidar com a avalanche de turistas e com os abusos das indústrias que incentivam e exploram o turismo massificado, desde 2016 que o quer transformar num GRANDE PARQUE DE ESTACIONAMENTO. Começou por fazer projectos para cerca de 100 lugares de estacionamento, que tiveram a oposição dos moradores. Agora, vai começar a obra com um projecto para criar 76 lugares de estacionamento, admitindo uma alternativa de 56 lugares, mas dizendo inclinar-se fortemente para os 76.

Para a transformação da Praça num PARQUE DE ESTACIONAMENTO, vai fazer escavar todo o largo até cerca de um metro de profundidade e movimentar terras para nivelá-lo e poder instalar em todo o espaço fundações consolidadas com argamassas e recobri-lo com um pavimento de calçada. Estas intervenções não podem deixar de causar graves danos às raízes de dezenas de plátanos e tílias que actualmente contribuem para a amenidade da praça, e impermeabilizarão todo o espaço num grau que tornará inviáveis essas árvores ou quaisquer outras que se queira plantar em sua substituição.
A CMS chama-lhe “Projecto de Requalificação”, mas tudo no projecto deixa perceber que se trata de pôr este espaço ao serviço da indústria do turismo massificado.
1 No projecto da CMS, os lugares de estacionamento são localizados em três ou quatro baterias paralelas ao muro da quinta, deixando “livres” outros espaços:
“livre” a plataforma elevada por onde as viaturas de serviço acedem às Lojas do Picadeiro, e por onde vão continuar a fazê-lo, de mistura com algum estacionamento, que nenhuma EMES virá multar, e ao lado daquilo que alguns chamam esplanadas, mas que realmente são recintos com mesas para refeições, que ninguém impedirá que se instalem no espaço que for disponibilizado;
disponível todo o espaço junto à frente de casas onde estão os restaurantes “italianos e indianos”, convidando, na prática, a que se estendam “esplanadas” desde as casas até às árvores, ou mesmo para além destas;

OS RESTAURANTES GOSTAM DE TER ESPLANADAS E ESTACIONAMETO
PARA ATRAIR MAIS CLIENTES, E
MAIS ESTACIONAMENTO ATRAI
MAIS RESTAURANTES
Um ciclo que, de virtuoso, se ransforma em ciclo vicioso, que faz com que se acentue a especialização de S. Pedro na indústria da restauração,
e mais no serviço de refeições do que no serviço de pastelaria/café/refrigerantes.
Ficam a faltar condições... para os moradores.
“livres” as plataformas elevadas no Largo Manuel de Arriaga, junto à rua por onde se sobe do Ramalhão/Chão de Meninos para S Pedro (igreja, escola e junta), que ficarão totalmente disponíveis para aí se estenderem as “esplanadas” que já começaram a ocupar esse espaço. (Irão acabar por fechá-las com gaiolas de vidro como no Café da Natália?)

Com os exemplos que vemos, na Vila Velha, na Heliodoro Salgado e na 1º de Dezembro, quem é que acredita que veremos esta cena com que a CMS nos quer deslumbrar, e não mesas para refeições num recinto?
“livres” os passeios que esta obra da CMS cria do lado sul da Rua Marquês de Viana (a subir para Stª Eufémia, onde agora vão estacionando mais de uma dezena de viaturas, sobretudo de residentes), tornando apetecível a instalação aí de mais restaurantes, que passarão a ter ao seu dispor espaço para “esplanadas”. (Talvez seja a hora de alguém comprar o espaço onde fechou a drogaria/loja de ferragens, e assim se encerra mais um episódio da desertificação humana de São Pedro e da Vila Velha!).
2 Na Rua Marquês de Viana, por onde se sobe para Stª Eufémia, será marcada com lancis altos uma via de rodagem, sendo os peões remetidos para estreitos e simbólicos passeios, que em muitos pontos obrigarão esses peões e pessoas que se desloquem em cadeiras de rodas a circular pela via de rodagem (onde as viaturas têm prioridade). Este tipo de arranjo do espaço servirá para tornar mais intensa a circulação rodoviária para Stª Eufémia (Será que a CMS de Sintra e a Empresa dos Parques de Sintra querem incentivar por aí o acesso à Pena, em vez de fazerem novos acessos a partir de parques de estacionamento periféricos?), e tornar mais fluido o acesso ao GRANDE PARQUE DE ESTACIONAMENTO no Largo da Feira.

AINDA SE PODE EVITAR O PIOR
se os moradores estiverem activamente presentes
neste espaço público.
Podemos começar a marcar essa presença, criando o hábito
de nos encontrarmos na Praça aos sábados e domingos,
levando uns bancos ou umas cadeiras de praia e organizando actividades recreativas.
Grupos de teatro e animação cultural poderão ajudar-nos a incentivar esse hábito.
Poderemos assim explorar novas maneiras de usar este espaço público
e de renovar as nossas vidas.

O espaço da praça pode ter muitas utilizações
e deve manter-se disponível para todas, inclusivamente o estacionamento de algumas viaturas
e alguns espaços de esplanada,
mas sem ser transformado num grande parque de estacionamento
para atrair mais clientes a mais restaurantes,
As esplanadas podem ser espaços abertos com livre circulação entre mesas
e oferecendo sobretudo serviço de cafetaria e pastelaria,
não os recintos fechados por canteiros, vasos e divisórias acrílicas
onde se concentram umas mesas para servir refeições.
A serem criados espaços para estacionamento,
estes podiam estar distribuídos por três ou quatro alinhamentos
conforme a planta que aqui mostramos.

As obras para a instalação desses lugares de estacionamento
não devem danificar nem prejudicar o crescimento das árvores,
que devem ter em seu redor amplos espaços com solo orgânico.
Pode haver quiosques, fornos e outros equipamentos de apoio à feira e outros eventos.
Mas não construções ao longo do muro da Quinta de S. Pedro.
Deve ser recuperada a fonte que já aqui existiu
(a Fonte das Rãs)
abastecida com água das minas da serra,
e devem ser criados pontos de água para animais.

Nunca deixemos de reclamar uma
ZONA DE PRIORIDADE AOS PEÕES
abrangendo a Praça e as ruas que lhe dão acesso, e
impedindo que a Rua Marquês de Viana
se transforme numa via de acesso a Stª Eufémia e à Pena ,
com trânsito mais intenso e mais veloz do que é hoje.
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